quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Se assim Deus desejar, que sejamos piegas.

Acessei um site indicado pela Rúbia mais lindas das Rúbias, chamado FutureMe. Você escreve um "e-mail" e ele será enviado a você, no futuro, quando você quiser, na data que você desejar. Coloquei o meu "privado" e o fiz. Piegas? Não sei, a vida é assim, acho terrível quem passa por ela sem o clichê, a grávida que tira foto do marido beijando a barriga, a moça que passa a fossa vendo filme romântico com as amigas e os velhos amigos relembrando a infância, quem liga? A vida não pede passagem, ela passa e você só pode dizer "já foi?".

Decidi ler as cartas públicas do site, que você posta a sua ao público, se quiser. Fiquei chocada mas a maior parte do tempo, feliz. Andar numa onda de tristeza sem motivo aparente não é coisa de depressivo mas é coisa de gente deprimida, o que tem lá suas variações. Mas eu me comovi diretamente com a carta de uma Melissa para uma futura Melissa, Melissa essa que se escreve a futura mãe que ela quer ser. Ela dizia que não podia enfrentar o mundo e salvar sua linda menina que nasceria em 9 dias - e adivinha, não é que não pode mesmo? - que estar insegura sobre ser mãe é normal, mas vale a pena, porque se tem algo pelo qual devemos ficar receosos, esse algo é pelo que amamos e, principalmente, quem amamos. Ela não tinha muito a oferecer, mas tinha tudo que poderia dar: Ela a amava antes mesmo de nascer e se tem algo que não pode ser tirado e não poderia ser perdido, esse algo ela já tinha.

Quem liga que as coisas piegas existem? Quer algo mais óbvio do que o amor de uma mãe por sua filha? Talvez seja essa falta de obviedade que me levou a pensar que tudo poderia estar perdido. Provável que a total racionalidade da mãe em perceber que não havia muito o que ela fizesse, o mundo ainda é um lugar perigoso, não substitui o fato de que o amor pela sua filha não pode mudar. Pessoas cheias de anseios, angustias, sonhos, loucuras - Tinha uma menina afirmando que se a visse no futuro morando ainda na casa dos pais era bom correr, porque ela viria do passado para buscá-la; imagine que incrível se você pudesse voltar ao seu passado e contar que as coisas não deveriam ser assim? Vou sonhando, vai que faço um filme - todos devidamente detalhados naquelas cartes para seus "eus" do futuro me levaram a crer que as coisas não precisam ser perfeitas, mas elas precisam continuar. Ou continuam, ou não teremos mudanças, ou não teremos nada. Prefiro ficar com as pieguices, elas fazem bem para o coração, uma dessas utopias que tanto amamos, melhor do que as negativas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Capítulo 1: Perdendo as sombras.


Se Jorge não soubesse que estava naquela cidade deserta, certamente pensaria ter chegado ao fim do mundo. Ás três da madrugada, embriagado e solitário, andando pelas ruas mal asfaltadas e tortas, entre árvores com as copas tocando os céus, ele ajoelhou. Por ironia do destino, ele estava numa rua em forma de cruz.
Pensou em Ana, o quanto ele a magoou. E o quanto era hipócrita. Ela foi embora e ele apenas refletia insanamente sorridente, que ela jamais saberia quando ele dormiu com a irmã dela. Cinco anos de amor, dor, raiva, cura e cicatrizes tinham-se cessado. Seu emprego era uma merda, também refletiu. Enquanto passava as mãos sobre os cabelos suados da embriaguez se lembrava o quão caro pagou sua faculdade e o quão péssimo arquiteto ele era. Um abutre numa casa ao final da rua o olhava incessantemente, como se tivesse o dom de bicar a sua alma. Será que se lhe desse o fígado, ele voltaria a crescer como a maldição de Prometeus? Certamente uma cicatriz faria com que sua dor tivesse valor.
Lembrou-se de sua avó. Morreu quando ele ainda era adolescente, tinha lá seus quinze ou dezesseis anos. Ela vivia cercada por amigas da igreja e sempre dizia que ele tinha o demônio no corpo. Ela sentia que ele devia ser exorcizado. Não se importava tanto, ela tinha Alzheimer. No entanto não negava normal nunca tinha sido. Ouvia vozes desde pequeno, sussurros aterrorizantes, gritos e sentia cheiros, normalmente de sangue.
Por ironia do destino estava ouvindo algo naquele exato momento. Um sussurro baixinho, um ruído incômodo: "Por que você não tenta? Sua avó sabia você sabe. Aquela sua mãe que te largou sozinho com ela também sabia. Se você quer crescer, diga sim. Entregue a sua alma. Só um tantinho, um pedido sincero, aqui é um bom lugar para isso. Confie em mim, eu sei. Vai fundo." Passou a mão pelos cabelos, apreensivo. Era louco? Só podia. Ele sabia que não valia nada, sabia que não tinha futuro. Largado, jogado. Foda-se, o que será que deveria fazer? Não acredita nessas merdas, não quer acreditar nem em seu consciente, quanto mais que se vender sua alma do Diabo ele será recompensado. Mas naquela embriaguez, que diferença faria? Será que pelo menos ele conseguiria acalmar a sua mente? "Vamos, vá, você sabe que pode, eu sei que pode". Zunindo, mais e mais, sua cabeça doía.
Já ajoelhado, ele se prostra totalmente e decidi por fazer. Talvez seja como uma homenagem a sua enlouquecida avó. "Siga as minhas palavras", sua mente sussurra.
- Diante do profundo ganho que terei ao proferir essas palavras, entrego a minha alma a você, Lorde das Trevas. Uma troca justa, a qual eu ganho fortuna, carreira e tudo aquilo que todos não quiseram me dar. Entrego a minha alma e ganho o maior dos prazeres.
Ele caiu em lágrimas, caiu em choro. Não compreendi, desmaiou da dor no peito e da embriaguez. Quem passasse por ali talvez não continuasse tão cético quanto Jorge, pois dele saiu àquilo que provavelmente atormentou a vida de sua avó, um espírito levanta-se do corpo decaído do jovem e segue adiante, em direção a um clarão. Um espírito negro, sujo e que provavelmente dominaria qualquer um dos seus medos.
Uma velha sai de sua casa humilde. Ela vê o jovem, mais um jovem, jogado sobre a areia e a rua craqueada pelo trabalho mal-feito. Ela que morava na ponta da rua em forma de cruz, desdentada pelo tempo e sábia pelos seus medos, só conseguia suspirar. Algo ocorreu ao horizonte, ela imagina. Perto da mansão que indicava o final da cidade, uma luz acende. Uma luz em uma mansão de 140 anos abandonada. Inusitado, imaginou, porém não assombroso para aquela rua em forma de cruz. Virou seu olhar para o chão novamente, não conseguiu deixar de pensar naquele pobre moço.
- Coitado, mais um.
Chamou a polícia, que veio buscar o moço pela manhã, já que um moribundo numa estrada deserta não causa tantos problemas. Ela marcou a data, 01/04/1997. Certamente da-li, 15 anos, se veriam novamente. Provavelmente aquela luz, naquela mansão, significa que algo único estava para acontecer.



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Quando João Vitor aprendeu que pessoas são vasos.


João Vitor no alto dos seus 7 anos não compreendia muito bem os adultos. Ele os achava amargos, tristes e isolados. Não tinha muito graça em ser adulto. O único que ouvia com atenção sua mãe, até porque certamente sua mãe não era adulta, dizia a si mesmo.
Um dia João Vitor volta para casa triste e encontra o olhar preocupado da mãe. Ela para o que estava fazendo e corre ao encontro do filho, que conta a história do roubo-da-bola-de-futebol-que-terminou-a-amizade. Ele gostava muito do Erick, mas não era certo ele ter sido fominha no jogo no campinho. Achava certo ter dito que não queria mais vê-lo e voltou para casa bravo, porém triste. Não fazia sentido. Ele deveria ter ficado mais feliz por ter feito isso, já que foi “Olho no olho, dente por dente”.
Sua mãe olhou para ele com candura – aquele olhar que só as mães de meninos que jogam bola no campinho à tarde sabe fazer – e decidi contar uma história para o filho:
- Quando eu era nova, minha avó sempre cuidava de mim. Era sábia, assim como tento ser com você. Minha avó contou uma vez a história dos homens-vaso. Achei estranho no início, mas depois, com o tempo, eu consegui entender. Mas o importante que minha avó ensinou foi que os amigos são como os vasos em nossas casas.
Normalmente achamos estranhas algumas casas quando entramos não é? Vemos uma decoração diferente. Ela não faz sentido para nós. Algumas casas têm tanto vaso, tanto quadro, tanta coisa que ficamos perdidos lá dentro. Outras têm pouquíssimas coisas, alguns detalhes, algum bonequinho ou um enfeite. Assim são as pessoas, assim são os homens-vasos.
Normalmente as pessoas montam suas casas sem lógica para todos. As amizades não são diferentes meu querido.
Minha avó também contou sobre como nos formamos. Cada pessoa tem uma matéria diferente, cada pessoa tem a sua forma, sua substância importante. Alguns são feitos de barro, outros feitos de vidro, outros são feitos de mais um desses, mas todos são diferentes em forma. Cada vaso tem seu jeitinho: Uns são compridos, outros são mais gordinhos. Alguns têm desenhos, outro não tem detalhe algum. Muitas pessoas são assim, únicas, porém com uma mesma forma – e que fique claro, muitas dessas pessoas são feitas para serem desvendadas
Nascemos iguais em essência, mas nos mudamos com o tempo. Assim é um vaso, enquanto areia é areia, enquanto vidro é vidro, mas um dia todos viram vasos robustos. Alguns maiores que um metro, outros mais largos que uma panela de fazer feijão, mas claro, ainda vasos.
No entanto, quando menos se espera, a vida muda os vasos. Assim como a vida muda as pessoas. Um dia talvez apareça o primeiro racho, a primeira ferida e, claro, a primeira dor. Um vaso pode ser consertado, uma ferida pode ser fechada. Porém, novas feridas surgem, e fica difícil do vaso ser consertado. Algumas delas deixam marcas, umas mais profundas do que as outras. O que antes diferenciava um vaso do outro era o principio, agora eles não são mais assim meu querido. O que muda um do outro são seus cortes. Passa a ser difícil um vaso fazer companhia para outro vaso, a menos que um vaso queira estar com outro vaso. Será isso possível?
Talvez seja o único motivo para entrarmos naquelas casinhas que falei e percebemos como elas têm sua lógica. Ás vezes um vaso só consegue encontrar novos pares naqueles que aceitam suas formas, e muitas vezes até naqueles que ainda são capazes de aceitar como eles são. Talvez eu possa dizer que um vaso com detalhes indígenas ache um espaço no cantinho, bem embaixo, para desenhar uma fada azul para aquele amigo vaso que é representa um belo conto de fadas. Fazemos isso o tempo todo, os vasos também fazem. Somos capazes apenas de criar as maiores amizades com aqueles que sabemos, no fundo, que não são perfeitos. Vasos quebrados não são perfeitos, pessoas não são perfeitas. Elas cometem erros, para os outros, e consigo mesmas. Os melhores são aqueles que mesmo depois de todos os nossos erros, não imaginaríamos outros perto de nós. Com os vasos são os mesmos, ou será que uma porcelana chinesa não poderia fazer um belo par com uma panela de baiana? Claro que sim! Basta que eles achem espaço entre si e com a mesma vontade.
Talvez seja por isso que você, João Vitor, não conseguiu entender como essa ferida não pode ser curada na vingança. Não há motivos para que o fosse, meu pequeno. Por mais que ele tenha te magoado, ele também tem uma ferida, e esta é a ferida dele, ter feito você ficar triste. Esquecê-lo não irá ajudar, mas provavelmente perdoá-lo e dizer que no fundo, vocês formam a melhor dupla juntos é o mais fácil. Talvez seja mais fácil admitir que, no fundo, vocês serão os melhores vasos juntos, cada um do seu jeitinho.

[CONTINUA] 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nome

Óbvio que o nome tem um significado. Em francês significa "o amor será lei". Além de ser um trecho da belissíma música de Jacques Brel, é também algo que eu tento todos os dias. O amor sendo lei, o amor imperando.
Utopia doce, açucarando a minha existência.
Fazer o que, um pouco de doce para a gordinha faz bem ;)

P.S: A música é a famosa "Ne me quitte tu pas" (Não me deixe), já interpretada por Maysa e Elis Regina.

Prólogo

Resolvi por dar cria ao que queria nascer.

Apenas irei postar textos de meu possível livro, fragmentos de textos e também algumas idéias.

Vamos ver como o rebento fica.